HOMEM-AGEM

Caminhamos numa progressiva deterioração. Assim, é urgente ganhar a passada do tempo e fixar as nossas raízes e, no entanto, destruímos constantemente quem nos criou. É nesta tensão entre o que foi e o que poderá ser que nos resta agir num presente trémulo. Fazer uma homenagem supõe sempre um agir. Mas porquê esta pulsão primitiva de homenagear algo ou alguém? Talvez, assim, sintamos menos a solidão. Talvez, assim, consigamos sentir-nos mais perto da nossa procedência. Ou, talvez não seja nada disto!
O Tempo esgota-se.

sobre o espetáculo

O meu avô tinha morrido há pouco tempo. Mas a vida seguia e, com ela, a necessidade de fazer uma tutoria na disciplina de Corpo, com o professor Luca Aprea, para conseguir terminar a ESTC: escolher dois materiais e fazer uma apresentação baseada nas nossas escolhas; a minha incidiu no Livro da Dança do Gonçalo M. Tavares e no Corpo Paradoxal do José Gil e tive a necessidade de trabalhar sobre a homenagem, relacionando-a com o desejo de prolongar a memória de quem já não está.

Em 2018, a investigação do ato de homenagem começou. Como o tecer da aranha, as memórias começaram a arquitetar-se e vieram, para além do luto, a infância, algumas histórias emprestadas da minha árvore genealógica e a apropriação de um cantar e de um bailar - fado e flamenco - que se tocam na sua cadência de pranto. O que era um trabalho académico rapidamente se transformou numa necessidade artística de descobrir mais sobre o impulso que gera o ato de homenagem. E esta necessidade levou-me, às cegas, por caminhos que me ligam aos meus antepassados.

Em 2019, todo o coletivo Bestiário entrou nesta investigação e contámos com o auxílio de uma turma do externato Santa Teresinha de Lisieux (Projeto Paralelo) e de um grupo de adolescentes da associação Matraca, ambas em Lisboa. A experiência destes dois projetos pedagógicos e o tempo dedicado à leitura e reflexão serviram para consolidar o esqueleto deste processo criativo. Um importante ponto de ancoragem sucedeu com a constatação de que nós, atores e criadores, bem como os adolescentes da Matraca e as famílias dos alunos do externato, não sabemos quem são os nossos trisavós e tetravós e, mesmo depois de perguntar aos membros mais velhos das nossas famílias, continuamos a não saber.

Essas identidades perderam-se num passado pouco longínquo, mas o enigma aguçou a nossa curiosidade, ampliou o nosso horizonte de pesquisa e remeteu-nos, assim, para a procura pela origem, no duplo sentido biográfico e biológico. Mas onde cabe o ato de homenagem? Os pedaços que faltam à nossa árvore genealógica podem denotar a quebra que se perpetua com esse passado longínquo e tem influência direta na relação do Homem com a Terra.

Em 2020, a bailarina Teresa Manjua junta-se a nós, suprindo a necessidade de recorrer ao corpo do intérprete como lugar e ato de homenagem, não só porque este apresenta anatomicamente algumas respostas às questões levantadas ao longo do processo criativo, mas também porque é na dança que se encontra a origem do ritual, uma das primeiras formas de homenagem da nossa espécie.

Teresa Vaz

© Jorge Albuquerque

imprensa

Crítica de Gonçalo Frota, in jornal Público

 
 

Entrevista por Pedro Mendes, CoffeePaste

percurso

 

Estreia
O Espaço do Tempo
25 a 27 de Setembro 2020
O Espaço do Tempo, Montemor-o-Novo

Reposições
Escola de Mulheres
7 a 10 de Janeiro de 2021
Clube Estefânia, Lisboa

Residências Artísticas
Largo Residências
Julho a Agosto de 2020
Lisboa

Festival A Salto - Um Coletivo
20 a 30 de Agosto de 2020
Casa Tangente, Elvas

O Espaço do Tempo
18 a 27 de Setembro de 2020
Montemor-o-Novo

ficha técnica e artística

5ª criação

 

direção artística e encenação Teresa Vaz

interpretação Afonso Viriato, Helena Caldeira, Miguel Ponte Teresa Manjua e Teresa Vaz

espaço cénico e curadoria de figurinos Bruna Mendes

desenho de luz Manuel Abrantes

operação técnica Evelin Bandeira

assistência ao espaço sonoro Filipe Baptista

produção Bestiário e Diana Almeida

assessoria de imprensa Helena Marteleira

imagem gráfica Sérgio Condeço & Neurónio

fotografia e vídeo Jorge Albuquerque

agradecimentos Ana Guglielmucci, Boutique Infantil Graciete Saraiva, Carlos Saraiva, Casa dos Direitos Sociais, David Erlich, Escola Superior de Teatro e Cinema - IPL, Fernando Teixeira, Francisco Leone, Fundação Calouste Gulbenkian, João Belo, Luca Aprea, Matilde Vasconcelos, Nikolai Denz, Pastelaria Estudantil, Patrícia Mondragon, Ruy Malheiro, Tiago Amaral, Zé - coordenadora da Escola Básica Luiza Neto Jorge

parceiros institucionais República Portuguesa - Ministério da Cultura

parceiro media Antena 2

residência artística de coprodução O Espaço do Tempo, UMCOLETIVO, Largo Residências

M/12

60min.

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